O corpo em alerta: o que a ansiedade tem a nos dizer?
- isadora delfino
- 24 de mar.
- 3 min de leitura
Vivemos em um tempo onde estamos sempre conectados, tudo é tanto o tempo todo. Nossos olhos deslizam pelas telas, incessantes, nossos dedos digitam nervosamente, nossas mentes se cansam de tantas notificações, posts, memes, imagens e textos, com dificuldade para processar tantos estímulos.
A hiperconectividade e o excesso de informações, criados à princípio para facilitar a nossa vida, muitas vezes aumentam a sensação de sobrecarga, desgaste e exaustão. Estamos sempre em busca de algo a mais, querendo saber tudo, fazer tudo e ser tudo, sem descanso. A cultura da produtividade nos diz que sempre podemos render mais, que mais é melhor, que nunca é suficiente. Mas o que pode acontecer com nossa mente e corpo quando a velocidade do mundo moderno nos atropela?
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em “A Sociedade do Cansaço” (2015), nos alerta sobre o impacto da sobrecarga de informações e da busca constante por produtividade na nossa saúde mental e física. Han descreve como, em uma sociedade marcada pela pressa, pela conectividade constante e pela cobrança de desempenho, a ansiedade surge como um sintoma de uma vida desconectada de seu próprio ritmo, forçada a acompanhar o fluxo impiedoso e brutal das exigências externas.
Nesse contexto, a ansiedade não é mero reflexo de nossas inseguranças e questões pessoais, mas uma reação ao sistema no qual estamos inseridos, que nos exige mais do que podemos oferecer. Em seu trabalho, Han nos convida a refletir sobre como a aceleração do mundo moderno cria um cenário onde o corpo e a mente, saturados, falham em encontrar um espaço de respiro e liberdade, contribuindo para um crescente mal-estar coletivo.
A ansiedade frequentemente se faz presente nesses momentos de aceleração constante, nos mantendo presos em cenários hipotéticos e catastróficos. A todo instante, pensamos no que pode acontecer, no que deveria ter sido feito, no que virá, criando um ciclo infinito de medo e preocupação que nos paralisa. A mente corre para tentar controlar o futuro, assustada com o desconhecido, enquanto o passado se torna um fantasma que nos assombra com o que não foi feito, o que não deu certo, o que nos feriu. E, entre o medo do que não aconteceu e o medo do que pode acontecer, perdemos o contato com o presente, com o aqui e agora.
Aos poucos, a ansiedade vai se traduzindo no nosso corpo: o peito aperta, o coração acelera, os músculos se contraem, a cabeça lateja. Nossos sentidos se aguçam de forma distorcida, a mente em turbilhão nos apavora como se tudo de errado pudesse acontecer a qualquer momento, ao mesmo tempo em que nada daquilo é real.
Os sinais que o corpo produz em situações extremas não devem ser ignorados. O corpo tem sua linguagem para nos falar quando algo não está bem. Sintomas da ansiedade como tremores, taquicardia, sensação de sufocamento ou falta de ar, tensão muscular, problemas gastrointestinais, entre outros, representam uma mensagem do corpo pedindo pausa, cuidado e atenção.
Ao longo do processo terapêutico a compreensão da linguagem do corpo e do inconsciente, nos possibilita entender estes sinais de modo profundo e sensível. Não é sobre eliminar a ansiedade, mas entender o que ela quer nos dizer, o que existe por trás dos sintomas e pensamentos. O que nossa mente, cheia de medos e incertezas, tenta nos ensinar com sua inquietação?
A ansiedade deixa de ser um inimigo a ser combatido e passa a ser uma porta para o autoconhecimento, uma oportunidade de escutar a nós mesmos, de nos acolher com mais gentileza. Na psicoterapia, podemos desvendar essas camadas e compreender melhor o papel da ansiedade em nosso corpo e mente. Através da clínica, podemos aprender sobre nós menos, entender o que sintomas querem dizer e reconfigurar nossa relação com o futuro e o passado.
Quando paramos para ouvir o corpo, quando tomamos consciência das nossas emoções, podemos começar a dar passos mais firmes e seguros em direção a um estado mais consciente e presente. O trabalho terapêutico nos permite aprender sobre nós mesmos e criar estratégias para conviver com a ansiedade, estar presente e respeitar nossos limites, traumas e gatilhos. No momento em que paramos de lutar contra a ansiedade e começamos a ouvi-la, descobrimos o alívio em respeitar o tempo e os limites do nosso corpo, com a gentileza de quem cuida de si.
Comments